O problema do método de pensar do médico moderno [I]
Problemas do método de pensar na medicina atual [ou a crise de um modelo biomédico] ENSAIO
[Imagem: singlecare.com]
Imaginemos o médico do senso comum, o padrão formado nas faculdades de medicina, quando no consultório ou no ambulatório se vê diante da doença. Ela está na sua frente, concreta e real, no paciente concreto e singular.
A possibilidade mais comum é que ele perceba a doença apenas como um ente fenomênico. E fique refém, frente à doença, da lógica das aparências; fique na aparência do problema clínico, naquele particular CID [manual de classificação internacional das doenças].
Sim, ele terá estudado semiologia, fisiopatologia da doença. Mas principalmente terá sido doutrinado com protocolos para tratar aquela doença específica que ele consiga definir. Pouco mais que isso.
E, justamente, como ele foi treinado para, basicamente, juntar sinais, exames e sintomas e “construir” ou tentar costurar sua imagem de doença, de hipertensão, por exemplo, ele vai ser capaz, sim, de juntar esses elementos e formular sua “hipótese diagnóstico”. E vai cravar lá no prontuário: é hipertensão, dentro do código internacional da doença, e vai carimbar o CID I 110, por exemplo.
Tem o nome, tem o CID, dispõe dos exames, decorou o protocolo, prescreve o anti-hipertensivo e o diurético e ... dever cumprido. No real, é pouco mais que uma medicina do protocolo e que enquadra o paciente e seus sinais e sintomas em uma determinada entidade nosológica com seu CID.
Costuma prescrever drogas para suprimir sintomas [antiácido, anti-hipertensivo, diurético, analgésico e afins] e outras drogas ligadas ao CID, as quais, de conjunto - sempre é importante levar isso em conta - , costumam criar outras doenças [chamadas suavemente de “efeitos adversos” ou iatrogenia “do bem”].
A hipertensão do doutor terá ido muito pouco além das fronteiras do sistema vascular, do coração. Com os sintomas suprimidos, no entanto, doutor e paciente estarão bem resolvidos. Reinará, por algum tempo, a paz do jaleco.
Não se costuma levar em conta que medicamentos de uso continuado costumam trazer “efeitos adversos” que, no real, são doenças importantes, com poder de derrubar a qualidade de vida.
Um anti-hipertensivo corriqueiramente usado pelos doutores, ao longo do tempo, tende a desenvolver, em vários pacientes, por exemplo, plaquetopenia, hiperglicemia, angioedema, edema de laringe, distúrbios psiquiátricos, enxaqueca, taquicardia, irritação gástrica, diarreia, colestase biliar, mialgia, lúpus cutâneo, disfunção renal e disfunção erétil ou impotência. Não ocorre da mesma forma em todos, mas é certo que a droga estará operando em todos os pacientes.
Ou seja, a chance de o paciente ir parar em outros especialistas em consequência de ter passado por aquele cardiologista é alta.
Mas quando cair nas mãos do gastrenterologista, do dermatologista, do hematologista, do endocrinologista ou do urologista, também será alta a chance de nenhum deles estabelecer a relação causa-e-efeito. Isto é, cada doença veio de um lugar diferente, nenhuma veio das drogas que o primeiro doutor impôs ao paciente.
Sendo que drogas mexem com vários elos do metabolismo da pessoa. Invariavelmente.
[Imagem: s4be.cochrane.org]
Ou seja, o impacto negativo do tratamento será descarregado sobre o metabolismo, sobre a fisiologia ou o funcionamento de outras partes do organismo em um ciclo perpétuo onde o “tratamento”, mesmo tendo apenas suprimido os sintomas, termina engendrando outras doenças [iatrogenia].
Vejamos mais exemplos.
Usar um anti-inflamatório que promove erosão da mucosa do estômago, pode aliviar a gastrite, mas tem poder de engendrar uma úlcera, usar um anti-hipertensivo tem potencial de provocar obesidade e impotência sexual, desfechar ciclos de radiação ionizante e quimioterapia ultra-tóxicos sobre um organismo tem efeitos imediatos e de médio e longo prazo nada desejáveis.
Todas essas são formas de atacar um desequilíbrio – chamado de doença – só que às custas do metabolismo sadio, de outras funções do próprio organismo, intoxicando-o cronicamente, por exemplo. Ou até gerando um câncer [1].
Ora, tomando de conjunto, tudo isso revela um método. Um padrão não apenas nos protocolos de tratamento, mas na lógica que guia o médico.
É característico do modo de pensar do médico moderno [2], abordar um fenômeno clínico isolando-o do contexto, ignorando seus inexoráveis laços com a fisiologia da totalidade do organismo, portanto, zero visão da totalidade, zero dialética.
E o problema está em que, ao atacar o fenômeno, sem considerar as forças que o engendraram, os obstáculos ou carga tóxica metabólica que ele expressa, o organismo será impactado com um custo biológico extra. Mais intoxicação, mais impacto negativo sobre diferentes sistemas orgânicos, tudo para “o bem” do paciente e em nome do tratamento
Em outro nível, tudo em aberta contradição com o princípio de Hipócrates do primum non nocere [em primeiro lugar se deve machucar o paciente].
Nesse modelo biomédico, o sintoma da doença ou a sua aparência [o desequilíbrio aparente] é suprimido ou mantido sob controle químico/tóxico, mas as determinações que engendraram o problema, estas seguem operantes, agora com uma contradição adicional: um custo metabólico a mais, derivado do impacto deletério do tratamento, para o organismo suportar.
É um método de pensar/abordar o organismo totalmente reducionista.
Reduzem todo o processo metabólico e suas contradições que engendraram o desequilíbrio ao mero fenômeno do desequilíbrio. Mas acontece que este não é o problema.
O problema é, antes, a resposta do organismo [em forma de sinais e sintomas], o alarme do corpo ou a válvula de escape que o organismo encontrou diante de uma contradição metabólica importante [no seio do metabolismo, da produção de energia].
A abordagem dialética, totalizante, exige, antes de qualquer intervenção terapêutica e para que esta tenha lógica, e que guarde coerência com o problema de fundo, que se leve em conta uma pergunta-chave: por que surgiu esse tumor concreto? Por que surgem os tumores?
Para a medicina dominante, o tumor é fruto da “genética” da pessoa e/ou de “fatores de risco” [uma lista interminável deles]. Nunca é resultado do terreno biológico, por sua vez, indissociável do estilo de vida. Ou expressão de desequilíbrios biológicos provocados por problemas alimentares e do estilo de vida e de trabalho, ou por agressões tóxicas da própria medicina.
Se for perguntado a um doutor sobre o que causa os tumores, sua mais provável resposta será na esfera do “multifatorial”, ou da genética.
São múltiplos fatores, dirá; e com isso revela sua antidialética. Como se sabe, esse método de pensamento formal e que fica refém do “multifatorial” foi desconstruído já no século XIX, nas ciências humanas.
Ora, a lógica da doença passa pela abordagem fisiológica, do conjunto do metabolismo, da capacidade do organismo de produzir energia biológica e defesas contra a doença, agressões ambientais, de trabalho e de dieta. Vai ser necessário checar o processo da respiração celular e os obstáculos ao seu pleno desempenho.
Sobretudo considerando que as estruturas e funções orgânicas funcionam bem se há energia suficiente, adequada, se o metabolismo flui sem obstáculos [nos limites desta nota não é possível entrar em detalhes a esse respeito; há autores, como R. Peat, com um foco mais profundo abordando este tema] e se há, em suma, energia suficiente para preservar as estruturas de pé.
[Dr Ray Peat, PhD]
Existe uma contradição fundante entre as estruturas orgânicas e a energia biológica com a qual o corpo conta.
O médico reducionista, antidialético não pensa que aquilo que ele chama de doença – um determinado desequilíbrio – apenas expressa que o metabolismo, o auto-movimento do organismo está sendo desviado do seu curso, represado, contido, intoxicado.
E esse é o cerne da questão, tanto do diagnóstico quanto do tratamento; ou seja é o verdadeiro terreno da fisiopatologia, aquela que não é ensinada nos livros do tema, de tão fatiada que ela se encontra e sem nunca tomar a totalidade.
A fisiopatologia ensinada nas faculdades de medicina somente leva à estratégia de se remediar a doença, não leva à abordagem das suas determinações fundamentais, no caso, o exame das travas metabólicas para a respiração celular eficiente. Por isso se torna medicina do remendo, da iatrogenia.
O livro escolar de fisiopatologia é o mapa, sim, fragmentado e descritivo, mas não integra a síndrome, os sintomas na totalidade dinâmica do organismo na qual, por exemplo, tireoide, fígado e um ovário policístico estão interconectados.
Essa fisiopatologia somente terá a oferecer explicações parciais, verdades parciais e fragmentadas. Pedaços de verdade, como se vê inclusive nas “explicações” ortomoleculares corriqueiras. [Por exemplo, seu embelezamento da serotonina, tirada do contexto do metabolismo humano]
O problema é que essa abordagem tem consequências: ficar refém dos sintomas é parcial, anticientífico e perigoso para o diagnóstico e tratamento. Cada doença é uma doença e tema para seu particular especialista.
É verdade que podemos partir dos sintomas, eles são o ponto de partida, são a expressão do desequilíbrio tal como ele se aparece clínica ou laboratorialmente, sim, mas apenas para descobrir por quê o sintoma existe, o que ele está sinalizando e revelando em termos da “caixa preta” do metabolismo.
Para dar um exemplo, como o doutor encara o problema de uma mama ou próstata calcificadas? Ou uma próstata aumentada? Calcificação [e aumento tumoral de próstata], como regra, não são encarados nos marcos da totalidade, onde a pergunta a ser feita seria: por que uma próstata “tem que crescer” ou se calcificar? Por que o organismo vai calcificando partes de si mesmo [próstata, artérias, vesícula biliar, mama, cérebro etc] com o passar do tempo?
Em vez de se ocupar do conflito metabólico concreto, orgânico, que explique essa tendência à calcificação, ou seja, a lógica da coisa, ao invés de pensar nos elementos de automovimento do organismo que expliquem aquela tendência indesejável, geradora de doenças, o doutor se perde no labirinto do reducionismo. Fica na coisa da lógica.
Ele vai ver o conflito não no interior do metabolismo concreto e suas determinações, suas relações diretas com a alimentação, mas vai enxergar o conflito onde ele não se encontra, vai abraçar uma perspectiva metafísica.
[Imagem: roboticurologysb.com]
Como? Na medida em que ele vai estabelecer um conceito apriorístico, como por exemplo o da “velhice”, do “envelhecimento” como algo que, em si mesmo causa doenças, e vai responder com um dogma: a calcificação ou o crescimento da próstata são resultado do “envelhecimento”.
O “conflito” vai se dar, agora, entre uma entidade/categoria abstrata, dogmática, indeterminada, tipo “velhice” ou “tempo de vida” e um problema concreto, da calcificação prostática, arterial, de mama.
Ora, esta não é uma contradição que não foi localizada no plano material, fisiológico; pertence ao campo da metafísica. Em última instância, dá passagem à divindade ou a especulações de todo tipo e mitos [por exemplo, o do colesterol inimigo da saúde, quando se trata de uma molécula fisiológica por excelência]. É como se o real colesterol fosse substituído por uma ideologia [“colesterol = doenças do coração].
Mas é a partir desse método de pensamento que o médico se satisfaz e se exime de quaisquer explicações ... concretas. Não é ironia: o doutor “explica” a velhice pela calcificação e a calcificação pela velhice.
Já que o idoso tende a calcificar seus tecidos moles [e perde cálcio dos ossos], logo o conceito de ”idoso” basta como explicação. O “tempo de vida” tudo explica.
Quando esse mesmo doutor se deparar com povos ou mesmo pessoas do nosso meio, que não calcificam suas partes moles ao envelhecer e nem apresentam osteoporose, o que vai pensar? Vai “responder” com qualquer evasiva médica.
Em regra nem vai se interessar pelo problema. No fundo, sabe que esse dado, se bem examinado, vai fazer ruir suas explicações semi-metafísicas.
Como vai poder explicar que certos grupos de idosos não apresentam aqueles problemas “da velhice”? Vai ficar claro, na verdade, que o doutor não possuía uma explicação concreta para um problema concreto. Lidava com conceitos indeterminados. Como partes. Ou com ideologia.
Ele somente repetia um lugar-comum, encobria um vazio de explicação científica com o dogma, por assim dizer, da “doença de velho”. Ou qualquer outro dogma: a criatividade metafisica não tem limites.
Mas a contradição – para sermos dialéticos – não pode ser formulada entre a) uma ideia indeterminada [velhice] e b) o sintoma concreto [calcificação]. Ela deve ser buscada em outro lugar: dentro da totalidade real em movimento.
Precisa ser uma contradição concreta, real, metabólico-fisiológica, no seio do organismo. Uma contradição da qual a calcificação – apenas para seguirmos no mesmo exemplo – é expressão. Expressão contraditória, patológica, de um determinado movimento do real, de determinações conflituosas no metabolismo. Que deve passar pela alimentação, pela relação, por exemplo, alimentos-hormônios [a exemplo do PTH, hormônio que desvia cálcio dos ossos].
Dito de outra forma, ou se vai para a pergunta concreta sobre o processo concreto ou se escorrega – a exemplo d medicina oficial, moldada pelo pensamento reducionista, típico da nossa sociedade – para a naturalização de todo fenômeno mórbido que ocorra no chamado idoso, por exemplo.
A verdade é que não há escapatória, digamos assim, filosófica: ou se adota o pensamento dialético, científico, ou em seu lugar entra a metafísica [a ideia que se tem a priori da coisas].
Em vez da lógica de movimento das coisas, uma lógica atribuída à coisa. E que, para ficar de pé, para ganhar alguma lógica, precisa ignorar aspectos da realidade.
[Gilbert Ling revolucionou o entendimento da célula, a despeito do silêncio da medicina oficial sobre sua obra]
Em vez da ciência, o dogma, a ideologia, o lugar-comum.
E mais, passo a passo, movido por esse pensamento reducionista o doutor chega a aberrações concretas, retiradas do contexto, do tipo achar que o colesterol, que é, na verdade, uma molécula fisiológica, protetora, anti-inflamatória e que nosso próprio corpo fabrica, e que cumpre um papel na totalidade da nossa fisiologia, possa ser qualificada como “ruim”, e ter que ser detonada com produtos químicos – diga-se de passagem - de grande lucratividade. E toxicidade.
Satanizar o colesterol, na medicina moderna, tem a ver com a perda da noção da totalidade, e com o raciocínio anticientífico, das aparências. Moldado a partir, todos sabemos, de interesses extra-médicos.
Se a teoria do corpo humano fosse o primeiro dado a ser considerado, na totalidade, em sua coerência interna, seria inconcebível e bizarro pensar em inibir o colesterol, com química. E ele, como anti-inflamatório, não é culpado da aterosclerose, ainda por cima.
Esse raciocínio vive de dogmas e de “recortes”.
É a bad science, com suas “associações”, seus estudos “epidemiológicos” aplicados à clínica, com suas metaanálises e estudos coorte de valor duvidoso.
“A causa do câncer é genética” é outro exemplo de dogma, de “recorte”, de reducionismo [a ser tratado em outra nota].
O sintoma não é a doença.
Mas a medicina, praticamente, põe aqui um sinal de igualdade [e trata o sintoma ou uma síndrome como se fosse a própria doença em seu contexto]. É como achar que o desemprego pode ser atacado sem mexer estruturalmente na economia que o engendra.
Na medicina, o reducionismo também campeia.
O que significa dizer que o método de raciocínio é exterior ao objeto. No exemplo do tumor, não estão preocupados com a lógica tumoral e este como expressão de desvios ou determinações metabólicas do próprio organismo em seu movimento contraditório, isto é, do organismo diante de obstáculos, de intoxicação crônica, de uma dieta antimetabólica, por exemplo.
A oncologia oficial tem suas explicações para o tumor [uma delas é o já citado dogma genético]. Atribuem explicações ao tumor, sim. Mas não procuram sua lógica na totalidade. Quando, na verdade, o surgimento do tumor fala sobre a totalidade: é uma fala da totalidade. O doutor fica nas aparências. O tumor é o mal, o deus ex machina.
Inevitavelmente, seu tratamento – com toda sua agressividade e iatrogenia – ficará no campo das aparências. Destrói, mais nada constrói.
[Otto Warburg: autor que explica, cientificamente, a origem do câncer e que é solenemente ignorado pela oncologia/fisiologia oficial; citado, mas pouco compreendido]
Por isso seu “tratamento” se resume a queimar [radioterapia], envenenar [quimioterapia] ou cortar [depois de biopsiar] e arrancar o tumor.
Sua estratégia é a de tomar medidas contra o tumor em si, mesmo que a um custo metabólico, orgânico, que cria problemas para o organismo ou que pode ser letal. Tipo, o tratamento que mata. O problema para a oncologia é o tumor, jamais as determinações que o engendram.
Captar as determinações do organismo significa entender porque ele “tende” a formar tumores, calcificações.
E não naturalizá-las, isto é, declarar, dogmaticamente, que “são da idade”, são “idiopáticas”, são “esperadas na velhice”, são de origem “multifatorial” e explicações do tipo.
Mas esse método segue sendo atual na bad science, irmã-gêmea do reducionismo médico. Eles escolhem, mais ou menos arbitrariamente, uma, duas três “causas” e com elas se satisfazem.
Ignorando solenemente que o método “causa-e-efeito” [útil para explicar a queda de uma pedra, na física] é um desvio e um ponto cego quando se pensa o corpo humano e suas múltiplas determinações.
Determinações que precisam ser entendidas, hierarquizadas, mas nunca naquele formato mecânico de “múltiplos fatores” e sim em sua relação real [não apriorística] e dialética entre si, conformando uma totalidade em automovimento.
Daria outra nota explicar aqui porque esse método investigativo é dogmático, ou tentar procurar a explicação para essa deturpação metodológica nos interesses subjetivos do investigador; sendo ele mesmo parte integrante da ordem existente, da ordem médica como ela é, vivendo dos privilégios, do status, das vaidades, da zona de conforto que premia aqueles que defendem a realidade como ela é [os dráuzios, iamarinos e todas as vedetes da medicina oficial]. Sua pesquisa é feita dentro da ordem moldada pela Big Pharma, pelo complexo médico-hospitalar-farmacêutico.
Tema para outra nota: a inexistente “neutralidade” do doutor e do pesquisador em uma sociedade de classe [ou burocrática, como Cuba].
No caso da medicina, os doutores só raramente consideram que o sujeito da mudança tem que ser o próprio organismo, com seus mecanismos de autodefesa, construídos em um longo processo de coevolução.
O organismo que se autocura, que se regenera, com ajuda do médico [caso este respeite a fisiologia].
Não a “cura” do sintoma, já que este [uma febre, uma inflamação local] desaparecerá naturalmente, e com alguma ajuda, se necessário, à medida que se processe a regeneração do metabolismo.
Sem conceitos e categorias [tipo edema, hipertensão, pH, coagulação] não se entende o organismo. Mas não se trata de uma categoria [um apriorismo] que gera outra, mas categorias extraídas do real, com uma lógica da totalidade, e que precisam ser validadas pelo movimento do real, constantemente checadas com ele.
Caso contrário, são inúteis, são fragmentos de pouco poder explicativo.
Na verdade, o fisiologista moderno, nos marcos da ordem, ou o próprio médico, não passam de construtores de conceitos e de dogmas, com algum contato com a realidade, sim, mas sem poder explicativo na totalidade do corpo humano.
São fragmentos de verdades. Desconectados: eles não vinculam cientificamente calcificação com tumor, alimentação com calcificação e nem procuram a lógica tumoral, apenas para continuarmos no nosso exemplo.
Seu método é estranho à dialética, seu conhecimento não é extraído da matéria e interpretado. Está contaminado por apriorismos metafísicos ou dogmáticos [ é isso que permite que um doutor possa falar horas sobre hipertensão, escrever um livro sobre hipertensão, adotar protocolo de tratamento da hipertensão e, no entanto, continuar propondo para o paciente restringir o consumo de sal e sem checar o cálcio da dieta; sua hipertensão imaginária não passa pela real fisiopatologia da real hipertensão; se fosse assim, não tiraria o sal da alimentação do hipertenso].[Ver aqui, sal e hipertensão].
No máximo as universidades e faculdades de medicina produzem idealistas – no sentido que a palavra tem na filosofia – isto é, estudiosos que até podem assumir que uma lógica governa o corpo humano. E podem tecer considerações – com fragmentos de verdade – sobre ela; em uma mescla de dogmas, apriorismos e meias-verdades.
Mas a verdade é que não existe uma lógica “governando” o corpo humano.
Existe a lógica do corpo humano, a fisiologia.
Existe a lógica concreta, processual, dialética do corpo humano em sua interação permanente [trocas] com o entorno onde se encontra. Do ambiente em que nasceu e do ambiente do qual depende para estar vivo.
Não é a coisa da lógica, é a lógica da coisa.
Portanto, é essencial abordar o corpo humano sem qualquer tentativa de explicar a coisa por fora da sua produção de energia, a qual mantém o organismo de pé. Como por exemplo, querer explicar a hipertensão por fora das determinações alimentares, da subjetividade do paciente e do seu grau estresse.
Ou o câncer por fora do entendimento da inflamação.
Já há evidências e fatos demonstrando que o próprio câncer tem sua origem em um desarranjo metabólico; em consequência tem ares de insanidade insistir em tratar um problema metabólico com tóxicos e venenos.
[Imagem: petscaninmumbai.com]
Em esferas da pesquisa científica, por exemplo, sabe-se que inflamação crônica – subclínica ou clínica – e prolongada, persistente, termina por tornar-se o núcleo de uma doença autoimune ou da própria transformação maligna do tecido; como fruto da contínua estimulação por agentes ou fatores inflamatórios em baixa dose.
É um método de pensar bem mais complexo e capaz de captar a lógica das coisas do que simplesmente ficar focando no tumor como “o imperador de todos os males”, uma espécie de grande satã, que tudo justifica, inclusive justifica colocar o paciente em risco de óbito através do “tratamento”. Cria-se o medo, depois vem o veneno, que então contará com a complacência da vítima assustada [quem não viu esse método sendo aplicado abertamente em outras esferas e em grande escala nos últimos anos]Ɂ
Esse método de pensar a realidade, procurando a lógica dos fatos, do metabolismo [ao contrário da maneira de pensar dos dogmáticos, reducionistas, da bad science] necessita do contato contínuo com a realidade.
Caso contrário, a dialética da realidade em movimento não se enquadrará em nosso pensamento e este tende a girar – em sua automática tendência em cair na zona de conforto – para ficar refém de categorias e conceitos cada vez mais arbitrários e indeterminados, distantes da realidade como os que hegemonizam o moderno pensamento biomédico.
E que resultam – no plano escolar, do aparelho formador dos profissionais - em doutores que raramente vão além do papel de prescritores de protocolos rígidos e inquestionáveis. Diante de um paciente desempoderado, fragilizado e assustado.
GM Fontes, Brasília 13-4-23
[modificado a partir de texto originalmente escrito em 2018, intitulado O método dialético em medicina e republicado no nosso antigo site em 21-10-2021]
As informações aqui presentes não pretendem servir para uso diagnóstico, prescrição médica, tratamento, prevenção ou mitigação de qualquer doença humana.
Referências_________________
[1] Você pode ler: Radiation-induced cancer from low-dose exposure: an independent analysis, de John Gofman, MD, PhD, 1990, San Francisco, USA, CNR Book Division; e também X-Rays: health effects of common exams, de John Gofman e Egan O´Connor, 1985, San Francisco, USA, Sierra Club Books. Além de enorme quantidade de artigos científicos demonstrando que radiação ionizante [radioterapia, mamografia, tomografia] promove inflamação e câncer.
[2] Medicina moderna - e não estritamente medicina capitalista, uma vez que a ideologia médica é engendrada no capitalismo, mas também hegemoniza a formação médica nos países que expropriaram o grande capital, levantaram regimes policiais sem povo no poder; seu modelo biomédico não vai além do copia e cola da medicina do mundo capitalista. Nessa medida, o método de pensar do médico cubano médio, coreano do norte e afins é tão problemático, iatrogênico e lamentável quanto o do profissional médio norte-americano, por exemplo.
[3] E que, por isso mesmo, também conduz a erros como o do uso equivocado de produtos químicos para reduzir o colesterol [ou a própria ideologia de “reduzir” colesterol], a reposição hormonal com estrogênio, o uso “terapêutico” de fitoestrógenos, de óleos insaturados, de melatonina, serotonina, 5-HTP, betacaroteno, o tóxico omeprazol, o abuso de drogas psiquiátricas, cirurgia bariátrica ou produtos químicos para a obesidade e assim por diante, erros invariavelmente derivados da perda da noção de totalidade da nossa fisiologia. Exemplo: desconhecer o papel do estrogênio [e da progesterona] como dois antagonistas na totalidade dos processos metabólicos. O resultado: iatrogenia todo o tempo.
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